

Hoje, sabemos que um ambiente de trabalho acolhedor e inclusivo traz enormes benefícios para empresas e colaboradores. Acolher diversas perspectivas enriquece a experiência em todos os níveis e é capaz de gerar importantes resultados. Existem diferentes maneiras de ser e diferentes maneiras de experimentar o mundo. Por isso, procurar maneiras de acolher a maior diversidade possível de perspectivas é essencial para criar um ambiente de trabalho produtivo, respeitoso e amigável.
Por isso, falar de temáticas LBTQIAP+ nesse contexto é tão importante. Trata-se de uma das populações mais discriminadas no Brasil. Dados mostram que a cada 20 horas uma pessoa morre por ser LGBTQIAP+ no país. Pessoas trans correm um risco 12 vezes maior de morrer violentamente no Brasil do que nos Estados Unidos. Somos o país que mais mata pessoas trans no mundo.
Vale também ressaltar que a discriminação tem impactos profundos na saúde mental dessa população. Levantamentos revelam que jovens rejeitados pela família por sua orientação sexual têm 8,4 vezes mais chances de morrerem por suicídio. Quando consideramos apenas pessoas gays, lésbicas e bissexuais, as chances desse tipo de morte são cinco vezes maiores do que em pessoas heterossexuais. Esse padrão de discriminação se repete no ambiente de trabalho. Para sobreviver, 90% das pessoas trans precisam recorrer à prostituição, já que faltam empregos para essa população.
Uma vez dentro das empresas, a população LGBTQIAP+ não tem acesso a cargos de liderança. Parcela pequena (13%) ocupa cargo de diretoria ou C-level. A maioria (54%) está em posições de entrada, como assistente ou estagiário(a). Na visão de de pessoas que se identificam como parte da comunidade LGBTQIAP+, as empresas ainda têm muito a fazer para acolhê-las. Uma parcela significativa (82%) tem essa opinião, enquanto pouco mais de um terço (32%) afirmou se sentir acolhida em seu local de trabalho.
Ser um ambiente acolhedor pode fazer a diferença para que esses profissionais se sintam mais à vontade, já que 66% acredita que revelar sua identidade pode ser prejudicial à carreira. Além disso, empresas que não apoiam causas da população LGBTQIAP+ são deixadas de lado quando esse público procura vagas. A maioria (62%) afirma que nem tentaria uma vaga em locais sem esse tipo de preocupação.
E isso é vantajoso em todos os sentidos para todos os envolvidos, de acordo com estimativas: empresas com políticas de inclusão podem ter resultados 21% melhores do que aquelas que não têm. Para que isso seja possível, é necessário entender quem são as pessoas que formam a sigla e compreender suas diferentes características e necessidades.
Maite Schneider, fundadora da Transempregos, projeto social que conecta empresas a pessoas trans em busca de vagas, recomenda que a empresa faça as seguintes perguntas a si mesma:
- Por quais motivos estou contratando profissionais LGBTQIAP+?
- Por que estes profissionais não estão se interessando de modo orgânico por minha organização?
Segundo Schneider, isso vai ajudar a mostrar “não somente o sentido da real inclusão e diversidade, como apontar gaps que existam dentro de sua organização (tais como vieses, clima organizacional, etc)”.
Em seguida, a organização deve questionar:
- Tenho um ambiente seguro e políticas de combate à discriminação claras e efetivas?
- Os benefícios que ofertamos atendem pessoas de diferentes orientações e identidades?
“Respondendo estes pequenos questionamentos, você conseguirá começar com mais segurança e principalmente respeito a todo seu grupo de colaboradores”, explica Maite Schneider.
A partir desse diagnóstico geral, explica Victoria Sönksen, Gerente de People da Vitalk, “será possível compreender “a existência, ou necessidade de implementação de: treinamentos de conscientização do time, treinamentos de como entrevistar essas pessoas (principalmente quando falamos de pessoas trans ou não-binárias), políticas anti-discriminatórias, canais de denúncia, comitê(s) de diversidade com representatividade LGBTQIAP+, e ações para o engajamento das lideranças para que elas se responsabilizem não só pela diversidade nas contratações mas também a inclusão e pertencimento efetivo das pessoas no time”.
Para garantir que o ambiente não se torne tóxico, é importante criar instrumentos para ouvir as pessoas que atuam na empresa e espaços de participação. Victoria recomenda “ter um canal claro e seguro de denúncia, com encaminhamentos e respostas efetivos; ter coletivos e comitês para o fortalecimento das pautas de inclusão e diversidade (de gênero, racial, orientação sexual etc.); ter tolerância zero para casos de preconceito ou discriminação; garantir igualdade de oportunidades de crescimento e salário; garantir uma comunicação inclusiva interna e externa o ano todo, e não só no mês do orgulho; ter casos de sucesso dentro da empresa de pessoas pertencentes a grupos socialmente discriminados em posições de liderança; e contar com o apoio de profissionais de saúde mental por meio de programas como a Vitalk”.
Maite Schneider completa e explica que “o melhor jeito de uma empresa ajudar no quesito saúde mental é saber que todos, todos seres humanos, precisam deste tipo de suporte”. Não apenas as pessoas da comunidade LGBTQIAP+ sofrem, mas toda a sociedade. “Temos obrigação enquanto sociedades, enquanto empresas e enquanto indivíduos, de colaborarmos para o bem estar coletivo e humano. Saber que somos parte deste problema é potente, pois nos traz auto-consciência”, diz Schneider.